Entrevista com Franciele Sena 

Founder do Startup da Quebrada

Entrevista realizada por Diego Ferreira

Inovação e impacto social em Belo Horizonte


O ambiente de inovação e startups de Belo Horizonte é repleto de iniciativas importantes que contribuem com esse cenário de constante crescimento. Uma iniciativa importante é a Startup da Quebrada, eles revolucionam vidas nas favelas, capacitando e apoiando jovens empreendedores. Ajudando a tirar sua ideia do papel e transformá-la em um negócio.

Com a missão de levar conhecimento de novos negócios e tecnologia para impulsionar o crescimento econômico dentro das comunidades, esta iniciativa busca conectar participantes para desenvolver soluções criativas e experimentar novas ideias, reescrevendo o código fonte das comunidades em Belo Horizonte. Entrevistei a Franciele Sena, ela é founder do Startup da Quebrada e falou mais sobre o seu trabalho na iniciativa. Confira o bate-papo que ficou incrível.

 

Como começou seu interesse pelo ambiente de inovação, empreendedorismo e startups? Compartilhe com a gente o início da sua jornada profissional e pessoal no mercado.

Em 2014, enquanto me preparava para me formar, surgiu a oportunidade de dar vida a um projeto de conclusão de curso que seria mais do que isso - seria o ponto de partida para o meu primeiro empreendimento. Sempre sonhei em empreender, e naquele momento, vi a chance perfeita de unir paixão e propósito. Assim, decidi embarcar na jornada de criar uma "startup" legaltech, mesmo sem entender completamente o que isso significava na época.


A Rede de Direitos foi concebida como uma plataforma para conectar as pessoas a advogados reais e ajudá-las a entenderem melhor seus direitos, além de facilitar a localização de bons profissionais próximos a elas. Investi tempo e recursos significativos na construção do sistema, utilizando as melhores tecnologias e práticas disponíveis na época. Desde alugar estandes até participar de feiras de demonstração, criar materiais promocionais e desenvolver um site completo, cada detalhe foi cuidadosamente planejado.

No entanto, conforme os meses passavam e o primeiro ano se encerrava, percebi que algo não estava certo. A plataforma não estava atraindo o número esperado de usuários e interações. Foi então que, pela primeira vez, decidi fazer uma pesquisa de mercado profunda. Para minha surpresa, descobri que as pessoas não procuravam por advogados na internet, preferindo confiar em recomendações pessoais.

Neste momento aprendi uma das primeiras lições da minha trajetória: antes de construir uma solução, encontre um problema!

Não adianta dedicar tempo e recursos para desenvolver uma solução incrível se ela não atender a uma necessidade genuína das pessoas. Por isso, mudei minha abordagem e comecei a enxergar os problemas ao meu redor com novos olhos, buscando identificar desafios reais antes de iniciar o processo de criação de soluções. Essa mudança de perspectiva foi fundamental para direcionar meu trabalho empreendedor na direção certa e garantir que minhas iniciativas realmente agregassem valor à vida das pessoas.


Apesar da dor, reconheço que o fracasso inicial foi crucial para impulsionar minha jornada de aprendizado e crescimento como empreendedora. Desde então, mergulhei de cabeça no universo das startups, abrindo outras quatro empresas, experimentando tanto o sucesso quanto o fracasso ao longo do caminho.Foi em 2017, durante uma aula de empreendedorismo, que uma pergunta surgiu em minha mente e decidi expressá-la a um dos meus professores: o que as faculdades têm feito para verdadeiramente desenvolver habilidades empreendedoras nos estudantes?

Essa pergunta sem resposta convincente despertou em mim a percepção de uma lacuna nas instituições de ensino: a dificuldade em preparar os estudantes para o empreendedorismo.


Decidi então reunir todas as minhas experiências, tanto de fracasso quanto de sucesso, e criar uma metodologia que pudesse ajudar os estudantes universitários a transformar suas ideias em negócios concretos em um curto espaço de tempo, apenas 2 meses e meio.

O programa que desenvolvi foi um sucesso retumbante, estendendo-se por sete anos, atraindo mais de 4 mil participantes. Durante esse período, mais de 500 startups foram criadas, e o programa recebeu milhões em investimentos, além de conquistar prestigiados prêmios nacionais.



Como surgiu a ideia do startup da quebrada? Aproveite e fale mais sobre o impacto da iniciativa em Belo Horizonte.


 

No final de 2022, fui surpreendida por uma doença devastadora que resultou na perda da maior parte dos pelos do meu corpo. Busquei ajuda médica incansavelmente, realizando inúmeras consultas e exames, porém, nenhum profissional conseguia identificar a causa desse desafio tão complexo. Essa jornada de incerteza e sofrimento me mergulhou em uma profunda depressão, roubando minha vontade de continuar avançando. Foi nesse momento de grande dor e desespero que tomei uma difícil decisão: encerrei o programa de startups que havia fundado e coordenado com paixão ao longo dos anos. Essa escolha foi dolorosa, mas se revelou fundamental para que eu pudesse me reencontrar e focar na minha recuperação física e emocional.


Durante esse período de autodescoberta e reconexão com meu propósito, recordei-me das origens humildes de onde vim e das inúmeras dificuldades que enfrentei na infância e adolescência. Enquanto refletia sobre minha própria jornada, também me dei conta de como muitos dos meus amigos e conhecidos de infância, especialmente aqueles provenientes de comunidades menos privilegiadas, estavam lutando, sem muitas oportunidades e privados do acesso a diversos conhecimentos e recursos.

Nesse processo de reflexão, também voltei minha atenção para um dos principais motivos que me permitiram transformar minha vida: a oportunidade de me conectar com pessoas que acreditaram em mim e investiram em meu potencial. Compreendi profundamente como essas conexões humanas, esse networking, ampliaram meus horizontes e abriram portas que antes pareciam inalcançáveis.

Nesse momento, uma clareza profunda se instalou em meu coração: meu propósito era ajudar as pessoas a empreenderem. Embora já estivesse envolvida nesse trabalho, percebi que estava limitada a um público privilegiado, frequentadores de faculdades privadas, cujos pais possuíam conhecimento e recursos para apoiá-los.


No entanto, ao refletir sobre minhas origens e as dificuldades enfrentadas por aqueles que compartilham minha história, compreendi que muitas pessoas em comunidades carentes não têm acesso sequer ao básico sobre empreendedorismo. Elas podem passar a vida inteira sem encontrar alguém para guiá-las, mentorá-las e ensiná-las por onde começar.

Foi assim que nasceu o "Startup da Quebrada", com a missão de capacitar pessoas das comunidades a construírem seus próprios negócios, fornecendo conhecimento prático e facilitando conexões significativas que podem transformar suas vidas e as comunidades em que vivem. Este é o meu compromisso: tornar o empreendedorismo acessível a todos, independentemente de sua origem ou circunstâncias.



Quais foram os principais desafios enfrentados na idealização e crescimento do startup da quebrada até hoje? Aproveite e fale mais sobre o que aprendeu com esses desafios.


 

Iniciar o projeto "Startup da Quebrada" foi como dar os primeiros passos rumo ao desconhecido, pois envolvia um público diferente, um conteúdo diferente, uma linguagem diferente e, principalmente, exigia uma abordagem única para conseguir investimentos.

No começo, enfrentei inúmeras dificuldades para angariar investimentos para a iniciativa. Nem todas as empresas estavam interessadas em abrir suas portas para o meu público-alvo. Além disso, por se tratar de uma iniciativa sem fins lucrativos, muitos investidores não viam oportunidade de retorno financeiro. As empresas que apoiavam projetos sociais estavam mais inclinadas a investir em iniciativas que já possuíam números sólidos ou que já estavam estabelecidas no mercado.


Diante desse cenário desafiador, decidi assumir a responsabilidade financeira do projeto com meus próprios recursos. Fiz o que estava ao meu alcance, superando obstáculos e enfrentando adversidades, até que finalmente conseguimos realizar a primeira edição do "Startup da Quebrada". Foi um período de aprendizado árduo, mas também de grande crescimento pessoal e profissional.

Enfrentamos outra grande dificuldade ao tentar conquistar a confiança do público da comunidade. Muitas pessoas na comunidade tinham receios e desconfianças em relação ao projeto, acreditando que no final teriam que pagar por serviços ou que se tratava de uma iniciativa com fins comerciais ocultos.


Além disso, nos deparamos com o desafio de utilizar termos como 'programa de aceleração de startups' e 'hackathon', que eram pouco familiares e até mesmo intimidantes para o nosso público-alvo. Foi necessário adaptar a linguagem e as chamadas de todos os nossos eventos para torná-los mais acessíveis e atrativos, de modo a realmente captar a atenção e o interesse das pessoas da comunidade.




Compartilhe com a gente as principais conquistas que o projeto startup da quebrada conquistou até hoje em sua jornada. Fale uma conquista pessoal que conseguiu junto com o projeto.


 

Durante a primeira edição do projeto, conseguimos proporcionar uma jornada de dois meses e meio aos participantes, onde eles puderam aprender na prática como construir seus próprios negócios. Realizamos encontros tanto dentro das comunidades quanto em grandes polos de inovação e tecnologia em Belo Horizonte, demonstrando que todos os lugares são igualmente relevantes para nós.

Testemunhamos o surgimento de soluções inovadoras nas áreas de saúde, educação, mobilidade e logística dentro da iniciativa. Mais do que isso, vimos diversos empreendedores sendo formados, prontos para fazer a diferença em suas comunidades.


Ao término da primeira edição, conseguimos estabelecer parcerias sólidas com empresas dispostas a financiar parte das operações do projeto. Além disso, despertamos o interesse de empresas que desejavam se conectar com as soluções criadas e oferecer oportunidades para os empreendedores que passaram pelo "Startup da Quebrada". empreendedores que passaram pelo startup da quebrada.



Qual é o perfil dos empreendedores que participam do Startup da Quebrada? Compartilhe com a gente alguns números do projeto que mostrem seu impacto na sociedade.


 

Nosso público-alvo são pessoas que querem empreender, mas não sabem como começar. São pessoas que procuram uma linguagem simples para aprender conteúdos sobre negócios e que querem aumentar seu networking. Em um ano de iniciativa, contamos com a participação de mais de 360 pessoas inscritas em nossos eventos e o apoio inestimável de mais de 40 voluntários engajados, dentre eles mentores, palestrantes, avaliadores e agentes de inovação.



O que podemos esperar do startup da quebrada em 2024? Fale mais sobre as parcerias que estão apoiando o projeto esse ano e a jornada de aceleração que os participantes vão seguir na idealização de suas ideias.


 

Em 2024 teremos a seguinte programação:


Março

Maratona de Desenvolvimento: Solucionando as dores das comunidades


Maio

Encontro: Despertando seu potencial empreendedor

https://www.sympla.com.br/evento/meetup-despertando-o-seu-potencial-empreendedor/2321979


Junho

Encontro: Transformando ideias em negócios

https://www.sympla.com.br/evento/meetup-transformando-ideias-em-negocios/2321981


Agosto até Outubro

Jornada de Aceleração: Aprenda a Construir seu Negócio do Zero

https://www.sympla.com.br/evento/pre-aceleracao-de-startups-startup-da-quebrada/2321990


Novembro

Conexão de Negócios finalistas com Investidores e Mercado



Aproveite para deixar um recado final para o público da Revista BH in Press que gosta de acompanhar o mercado da economia criativa em Belo Horizonte. Muito obrigado por participar desse bate papo.

 

Aos leitores da Revista BH in Press que acompanham de perto o mercado da economia criativa em Belo Horizonte, quero expressar meu profundo agradecimento por acompanharem nossa história. A economia criativa em nossa cidade é um cenário repleto de inovação, talento e paixão, e é inspirador ver tantas mentes criativas contribuindo para o crescimento e a diversidade de nossa comunidade. Que continuemos a nos unir, a compartilhar conhecimento e a apoiar uns aos outros em nossa jornada empreendedora. Que possamos criar novas oportunidades, fortalecer conexões e impulsionar o desenvolvimento sustentável de Belo Horizonte como um centro vibrante da economia criativa.



Inovação e empreendedorismo que muda vidas


Desenvolver startups nas periferias é crucial não apenas para promover a inclusão econômica e social, mas também para fomentar a inovação e impulsionar o crescimento sustentável em comunidades historicamente marginalizadas. Ao investir em empreendedores locais e proporcionar-lhes recursos e oportunidades, as periferias podem se tornar verdadeiros centros de criatividade e progresso. Além disso, o surgimento de startups nas periferias não apenas cria empregos locais, mas também inspira jovens a perseguirem seus sonhos empreendedores, fortalecendo o tecido social e econômico dessas regiões. Dessa forma, a promoção do empreendedorismo nas periferias não apenas reduz as desigualdades, mas também estimula a diversidade de ideias e soluções, contribuindo para um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável da sociedade como um todo. Fica aqui o meu parabéns a Franciele e todos que atuam no startup da quebrada.



Conheça mais sobre o trabalho do Colunista Diego Ferreira