Entrevista com Érica Vieira
Editora-chefe e apresentadora na Rede Minas
Entrevista realizada por Diego Ferreira
Um legado de comunicação com qualidade em Minas Gerais
A Rede Minas desempenha um papel fundamental na comunicação mineira, atuando como uma plataforma que valoriza a cultura, a história e a diversidade do estado de Minas Gerais. Com uma programação voltada para a educação, o jornalismo de qualidade e a promoção da arte local, ela conecta os mineiros às suas raízes enquanto amplia a visibilidade de iniciativas regionais no cenário nacional. Conversei com a Érica Vieira, ela é Editora-chefe e apresentadora na Rede Minas, no bate-papo ela compartilhou sobre sua jornada profissional e insights importantes para o setor da comunicação. Confira!
Como começou seu interesse pelo mercado de comunicação? Compartilhe um pouco sobre sua jornada profissional com o nosso público
O meu interesse em comunicação acredito que tenha começado com o meu interesse por pessoas. Mas, para falar do meu interesse por pessoas, preciso dizer quem eu era e quem eu ainda sou. Sou muito tímida, mas era muito mais na infância. Na escola, mal ouviam o meu nome, eu era aquela que sentava no cantinho da sala e passava as aulas torcendo para não ser acionada pela professora. Era uma tortura pra eu ter que falar em frente a tanta gente! Sempre fui ‘a menina tímida’ e envergonhada da escola. Mas sempre estudiosa. Minha disciplina favorita era português e história. Eu “viajava” nos livros e nas explicações sobre a humanidade, a construção da sociedade. O tempo foi passando e eu, cada vez mais, gostando das histórias. Sempre amei ouvi-las e, posteriormente, contá-las. Eu brincava muito sozinha e conversava comigo mesma. Minha mãe conta que eu brincava de entrevistar as plantinhas dela. Enfileirava todas e, ora dava aula, ora entrevistava.
Cresci, fui para o segundo grau e comecei a me soltar um pouco mais, para poucas pessoas, claro. Também sempre fui curiosa e interessada na trajetória dos outros. Minha família diz que sou curiosa até hoje e quero saber sobre tudo e todos! Rsrsrsrs
Na faculdade, meu comportamento se transformou. Paralelo ao jornalismo trabalhei como atendente de telemarketing em uma rede de farmácias e me destaquei no meu setor: os clientes ligavam me procurando e querendo comprar comigo os medicamentos e afins. Sabe por quê? Porque eu era atenciosa com eles, perguntava como eles estavam, sobre a família, conversava e, com muitos, criei amizade e até frequentei a casa. Uma delas, a senhora Zacarias, me mandava presente, me elogiava quando ia à farmácia. Hoje, acredito que foi ali que desenvolvi a minha comunicação. A moça tímida se soltou pelo telefone. Era mais fácil pra mim, tímida, interagir dessa forma. Do telemarketing, fui promovida para o setor de comunicação e marketing e aí passei a organizar eventos, ser responsável, com minha gestora, pela comunicação da rede.
Desenvolvi a habilidade atuando e estudando sobre os processos comunicativos. Formei no curso de jornalismo e fui parar na televisão, onde estou desde então, há quase 20 anos. Na atuação nesse veículo tive a oportunidade de conhecer muita gente, muitas histórias e me deparei com pessoas tímidas ou com dificuldade de se expressar. Foi aí que decidi que o meu conhecimento e a minha própria trajetória poderiam ser úteis para ajudar outras pessoas a se desenvolverem também. Comecei a ajudar informalmente amigos a montarem palestras, gravar vídeos, se exporem. Depois, comecei a ser acionada e indicada para ajudar quem eu não conhecia. Foi daí que surgiu a ideia de abrir uma empresa de comunicação e desenvolvimento. Hoje, eu atuo na Rede Minas e também sou uma mentora, treinadora, professora e palestrante em comunicação e oratória.
Fale mais sobre a sua história na Rede Minas! Compartilhe com a gente suas experiências como editora-chefe e apresentadora na emissora
Primeiro, estagiei na assessoria de imprensa. A proposta era passar por todos os setores da comunicação: assessoria, rádio e TV. Comecei na assessoria e, quando fui para a Tv Ufop, não sai mais de lá. Fui a primeira estagiária e, depois, jornalista da emissora. Formei e fui contratada! Passei 9 anos na UFOP: estruturei a televisão, o primeiro jornal dela, o setor de jornalismo completo. Depois de 9 anos com tudo funcionando muito bem, comecei a repensar minha carreira e decidi sair de Ouro Preto. Nota: eu morava em Lafaiete quando fiz o estágio. Estudava a noite, da faculdade ia de van para Ouro Preto, trabalhava e voltava à noite pra estudar. Uma rotina extremamente pesada e cansativa, mas uma das melhores fases da minha vida.
Nesta época surgiu o primeiro concurso público da Rede Minas, que apesar de ser uma emissora pública, não contava com concursados e apenas com contratados via CLT. Fiz o concurso, fui aprovada e entrei na emissora em setembro de 2014. Lembra que sou tímida? Pois é... cheguei calada e não contei muito da minha experiência. Então, acabaram me colocando atrás das câmeras: eu era produtora e apuradora. Aos poucos, foram me escalando para a reportagem e eu fazia matérias muito diferentes das que eles estavam acostumados. Eu vinha de uma emissora educativa em que os formatos das reportagens eram muito mais humanizados e dava mais voz às pessoas. Eles acabaram gostando muito desse formato e eu era escalada para reportagens especiais. Certo dia, o chefe de reportagem me indagou: “Érica, preciso que você faça um vivo amanha no jornal de meio-dia. Você já fez ao vivo?” Eu pensei dois segundos e respondi: faço.
Mas... nunca o tinha feito. Minha experiência era em jornal gravado e não ao vivo. Pois bem, levei a pauta pra casa, estudei e treinei muito. O espelho do banheiro foi meu avaliador. Enquanto eu não fiquei satisfeita com a minha performance, não dormi. No dia seguinte fiz o vivo. Resultado? Um sucesso,fui super bem e todos amaram. A partir daí eu sempre era escalada para o ao vivo. Comecei a substituir férias e licença da apresentadora do jornal. Comecei a substituir outras apresentadoras de outros programas, como o Opinião Minas. Até que a editora-chefe e apresentadora dele saiu da emissora e eu fui convidada a assumir o posto. Hoje, faz 7 anos que estou à frente do programa como editora-chefe e apresentadora.
Um dos grandes destaques da sua jornada profissional é sua atuação no Opinião Minas. Fale mais sobre o programa de entrevistas e seu impacto na sociedade mineira. Fique a vontade para destacar algum momento que te marcou no programa.
O Opinião Minas é um programa diário de entrevistas que aborda temas do cotidiano como educação, saúde, política, economia, meio ambiente, comportamento, negócios. Carinho enorme tenho por ele! Já recebi na edição milhares de pessoas para traduzirem temas importantes para a sociedade e que, não raramente, são tratados de forma superficial por algumas mídias. O que a gente faz ali é pegar temas complexos e de difícil compreensão e traduzir para a sociedade os impactos deles na vida de todos nós. A população precisa saber como as decisões políticas, os rumos econômicos do país, afetam dentro da casa delas, na vida delas. Esse é o compromisso do programa e o meu pessoal: fazer com que as pessoas tenham entendimento sobre vários temas que, por serem complexos, elas acabam se furtando de aprender.
O programa já tem 25 anos, é um dos mais antigos da casa e muito tradicional na emissora. É difícil destacar momentos marcantes para mim porque os vivo com muita constância naquela bancada. São vários os temas que me marcam e me marcaram: falar de fome, de racismo e de educação são pautas, por exemplo, que me emocionam muito. Sou muito indignada com as desigualdades, as vejo de perto no programa - e fora dele - e é impossível passar despercebido pelo que nossa sociedade ainda vive. Falo com fervor sobre o racismo e não, não me importo de deixar nítida minha indignação na tela. Se quem está do outro lado não se indigna tanto ou mais que eu, tem muita coisa errada aí. E, óbvio, tem os temas que me tocam pessoalmente: há 15 dias falamos de cuidados paliativos e relembrei do fim da vida da minha vó e tia que se foram há quase dois anos. Durante a entrevista fui relembrando do que minha família viveu e me emocionei sim. Sou gente! Não sou um robô ou atriz encenando a vida. Eu sou uma pessoa vivendo a vida real como qualquer outra. Então, me emociono ali sim.
Com certeza você tem uma jornada incrível no mercado! Poderia compartilhar com a gente os principais desafios que você enfrenta no seu mercado de atuação e como continuar crescendo?
Os principais desafios da imprensa hoje é lidar com as informações que não são verdadeiras, as chamadas fake news, e com o descrédito que nos foi imputado nos últimos anos. Levamos ao programa os melhores entrevistados possíveis, aqueles que são referência na área deles. O trabalho é intenso para procurar essas pessoas e levá-las à edição. Tudo para que o telespectador veja em nós credibilidade e confiança. Para que eles acreditem não nos conteúdos fantasiosos da internet, mas na notícia real, checada, apurada, comprovada. E é dessa forma que a imprensa séria e comprometida cresce.
Os desafios do meu trabalho no desenvolvimento da comunicação é fazer as pessoas entenderem que falar bem não é dom, é habilidade e, por isso, possível de ser aprendida e indispensável para qualquer um, independentemente da área de atuação. As crenças que envolvem a nossa exposição e a nossa fala são enormes e enraizadas na nossa história. Esse é o maior desafio para que se avance. Por isso, quando desenvolvo as pessoas, não trabalho com a oratória apenas, trago ferramentas sobre o entendimento dessas amarras, o desenvolvimento de pessoas. Tenho notado que nos últimos anos empresas, empresários e os profissionais se atentaram para a importância da comunicação para as relações, os negócios e o crescimento deles. Então, é um mercado que, na minha experiência, só tende a crescer.
Até porque, como vamos nos desenvolver, desenvolver as empresas, os nossos negócios, os nossos relacionamentos se não comunicarmos de forma assertiva? Se não convencermos o outro de como o nosso conhecimento pode transformar a vida dele, não é mesmo?
Aproveite e compartilhe com a gente as principais vitórias que você conquistou na sua carreira profissional! Principalmente em 2024 que foi um ano repleto de oportunidades no mercado de comunicação
A principal conquista foi lidar com as minhas próprias crenças e expandir a minha atuação. Empreender, ter meu próprio negócio e a minha própria empresa era plano que parecia distante pra mim. Sempre busquei a estabilidade (não à toa sou concursada. Apesar de que hoje é nítido que estabilidade não existe!), cresci ouvindo do meu pai que é assim que deve ser: que um homem deve saber quanto ele vai ganhar por mês. Essa ideia, cultural e de criação dele, acabou sendo passada para mim por muitos anos. Quando entendi que essa era a crença do meu pai e não era de fato no que eu acreditava, tudo mudou. Criei asas e me senti capaz de sim, ter o meu próprio negócio. No caminho, encontrei pessoas incríveis que me ajudaram a dar asas aos meus próprios projetos: entre tantas, destaco a Janaína Fidelis, psicóloga especialista em carreira, o meu marido, Thales Menezes, empresário, e meu irmão Vinicius Vieira, que foi o primeiro da minha casa a ter o próprio negócio e me inspirou também.
Hoje, vivo a melhor fase da minha carreira. Por esse entendimento da importância da comunicação, tenho sido cada vez mais procurada para desenvolver pessoas e empresas. Desde que abri, com um sócio, a minha empresa de comunicação atendo o Brasil todo, virtualmente, com mentorias. E atendo empresas em Minas, como Gerdau, Bh Airport, Sebrae, Grupo Pardini, por exemplo. Em 2024, entrei em um mercado muito competitivo e desafiador: o de São Paulo. Neste ano, essa foi minha maior conquista: atender presencialmente fora de Minas Gerais. Comecei com a Atlas Governance, que é uma das maiores empresas de governança corporativa da América Latina. A partir daí muitas portas foram se abrindo e os projetos de atuação em 2025 se ampliaram.
No seu perfil no Linkedin é possível notar que você tem diversas participações em podcasts. Como você enxerga o formato de podcast atualmente em Belo Horizonte? Aproveite e compartilhe com a gente algum momento especial que viveu participando de um podcast
Podcast é um formato dinâmico, atrativo e muito consumido pela facilidade de acesso. Você pode assistir ou ouvir de onde estiver e quiser. Não é um formato engessado e rígido e, por isso, permite ampliar temas de discussão. Lembrando que, ainda assim, para fidelizar o público, é preciso conhecê-lo, saber os objetivos do programa e ter conceito definido daquele produto. Esse produto cresce em BH na mesma tendência que cresce no Brasil todo. Ouve-se podcast para conhecer estratégias de negócios, para conhecer pessoas e as histórias delas, para aprender temas complexos, entender o empreendedorismo, o autoconhecimento. As possibilidades são inúmeras.
Os momentos mais especiais que já vivi sendo entrevistada em um podcast foi quando em um deles, a anfitriã, emocionada, contou o quanto aprendeu comigo sobre comunicação e o quanto essa habilidade tinha mudado a vida dela. Ela havia feito um treinamento comigo há alguns meses e, na ocasião, eu falei sobre a importância de criar as próprias oportunidades quando elas não surgirem. Pois bem, depois de ouvir essa minha fala ela criou o próprio podcast e estava ali me entrevistando. Ela disse que ali ela estava desenvolvendo cada vez mais a habilidade de comunicação dela e sonhando sonhos antes inimagináveis... É impagável ouvir isso! A comunicação transforma empresas mas, o mais importante: transforma pessoas!
Falando em Linkedin, você tem uma boa presença na plataforma! Compartilhe mais sobre sua visão do Linkedin como uma ferramenta importante para ampliar o alcance do seu trabalho. Aproveite e fale sobre o que podemos esperar da sua atuação em 2025
O linkedin tem sido das plataformas mais essenciais para que eu desenvolva a minha empresa. Foi por meio dessa rede que já fechei inúmeras mentorias e treinamentos, fiquei mais conhecida no mercado e pude falar do meu trabalho e dos serviços que presto.O foco ali é trabalho, é relacionamentos corporativos, de negócios, de profissionais. Confesso que ainda preciso explorar as várias possibilidades que o linkedin oferece, mas estou muito satisfeita com as conexões que ali tenho feito. Comecei a usar a plataforma esse ano. Para 2025 tenho planos de mentorias em grupo e mais treinamentos corporativos. Embora as mentorias individuais sejam meus xodós, estou cada vez menos treinando particulares. Para 2025 pretendo desenvolver pessoas por meio de grupos, expandir minha atuação cada vez mais fora do estado e ampliar a equipe da minha empresa. Eu sempre quis fazer tudo sozinha, abraçar o mundo e dar conta de tudo. Mas chega! Quero ter mais tempo justamente para me aperfeiçoar como treinadora e focar no que eu realmente sou boa.
Aproveite para deixar um recado final para o público da Revista BH in Press que gosta de acompanhar o mercado da economia criativa em Belo Horizonte. Muito obrigado por participar desse bate papo.
A economia criativa é um motor de transformação cultural e social, gera emprego, fortalece identidades e movimenta ideias. Em Belo Horizonte, um dos pólos que mais cresce desse movimento, é essencial valorizar e capacitar os profissionais que impulsionam esse ecossistema. E o que eu acredito veementemente hoje é que a comunicação é a habilidade mais importante do mercado. É ela que diferencia profissionais, abre portas para negócios, constrói parcerias e conecta ideias. Uma comunicação assertiva e eficaz permite entender melhor as demandas e necessidades do outro e, assim, contribuir com o desenvolvimento dele. É por meio da comunicação, também, que passamos credibilidade e confiança. É ela que nos faz crescer e levar o outro com a gente. Afinal de contas, o único desenvolvimento sustentável é aquele em que a gente vai, mas não sozinho, vai COM o outro. Que você possa se apropriar do próprio conhecimento, aprender sobre a melhor forma de passá-lo e comunicar o que sabe. A comunicação transforma empresas, sociedade e, o mais importante, pessoas.
Conheça mais sobre o trabalho do Colunista Diego Ferreira